O fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS) é caracterizado por anomalia de temperatura da superfície do mar (TSM) no Pacífico Tropical. A fase positiva (El Niño) é quando as anomalias estão acima de 0,5°C. Já, a fase negativa (La Niña), é quando as anomalias estão abaixo de -0,5°C. A interação oceano-atmosfera interfere no clima global e regional, por isso o ENOS é constituído de dois componentes, o oceânico, denominado El Niño propriamente dito, e o atmosférico, o Índice de Oscilação Sul (IOS). O El Niño é caracterizado por anomalias positivas da TSM, ou seja, águas mais quentes que as normais se estabelecem no Oceano Pacífico Tropical, próximo à costa oeste da América do Sul. Quando as anomalias de TSM são negativas, dá-se o nome de La Niña à fase fria do El Niño. A caracterização do ENOS é feita através do Índice Multivariado do ENOS (IME) e o Índice de Oscilação Sul (IOS).
Enquanto manifestações do ENOS foram reconhecidas entre o fim do século XIX e início do século XX (Todd, 1888, Walker e Bliss, 1932), os dados mais abundantes não possibilitaram um estudo mais abrangente até o final dos anos 1970 e 1980 (Rasmusson e Carpenter, 1982; Arkun et al., 1983). Foram criadas quatro diferentes índices de TSM relacionados com ENOS na região Tropical. Essas áreas chamadas de "Niño" foram destinadas a resolver certos aspectos ou ciclos de vida relacionados com a anomalia de TSM. Essas regiões foram selecionadas para ajudar a compreender os impactos ocasionados pelo ENOS em diferentes partes do globo. O IME é dividido em diferentes regiões do Pacífico Equatorial (Figura 1). Nessa nota técnica usamos anomalia das quatro Regiões Niño.
Figura 1 - Localização das quatro regiões "Niño" que foram escolhidas no início de 1980, no Centro de Análise de Clima dos EUA. Fonte: NCEP/NOAA.
Já, o IOS é caracterizado pela diferença de pressão padronizada nas regiões de Darwin (Austrália) e de Taiti (Polinésia Francesa), causando enfraquecimento ou intensificação dos ventos alísios sobre o Oceano Pacífico Equatorial. O IOS é considerado positivo quando a pressão está maior em Tahiti e negativo quando está mais elevada em Darwin. A associação entre o IOS e o ENOS é definida de ENOS. Em geral, IOS positivo é associado a La Niña, enquanto que, IOS negativo está associado a El Niño.
É possível observar, na Figura 2, as anomalias da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no período de janeiro de 1950 a maio de 2022. As linhas em azul representam os eventos de La Niña (fase negativa) e as linhas vermelhas os eventos de El Niño (fase positiva). Em maio de 2022 (última atualização) registrou-se anomalia negativa nas quatro as Regiões Niño, e essa situação indica uma configuração de La Niña.
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Figura 2 - Índice Multivariado do El Niño Oscilação Sul (ENOS). (a) Região Niño 1+2 (b) Região Niño 3 (c) Região Niño 3.4 (d) Região Niño 4. Período: Jan de 1950 a Maio 2022. Fonte: NCEP/NOAA. Elaboração: GeoClima Soluções Ambientais.
Nas Figuras 3 e 4, verifica-se, uma abrangente área com anomalia negativa, indicando a configuração da fase negativa do ENOS, ou seja, La Niña desde a costa oeste da América do Sul até nas proximidades do centro do Oceano Pacífico, com destaque para as regiões próximas da costa do Peru (Região Nino 1+2).
Figura 3 - Anomalia de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) (° C) no mês de maio de 2022. Fonte dos dados: NCEP/NOAA. Elaboração: GeoClima Soluções Ambientais.
Figura 4 - Anomalia de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) nos meses de março, abril e maio de 2022. Fonte dos dados: NCEP/NOAA. Elaboração: GeoClima Soluções Ambientais.
Nota-se, na Figura 5, que a mais recente média de plumas do IRI/CPC para Região Niño 3.4 de TSM prevê que o La Niña persista ao longo do Inverno 2022. Ressaltamos que de acordo com as discursões National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), NOAA’s National Weather Service e suas instituições financiadas, as anomalias oceânicas observadas recentemente permanecem abaixo da média (aquecendo ligeiramente) e isso deve continuar ao longo do inverno e assim a incerteza aumenta sobre se o La Niña está em fase de transição para o evento neutro no decorrer do Inverno de 2022. As chances são de 51% a 59% de La Niña e pouco mais 40% de um evento neutro durante os meses de julho, agosto e setembro de 2022. Na Figura 6, a grande maioria dos modelos de pluma prevê que as TSMs permanecerão abaixo da média caracterizando um La Niña fraco até setembro de 2022.
Figura 5 - Previsão de Probabilidade do ENOS baseado no modelo IRI/CPC. Atualização: Junho de 2022. Fonte: IRI/CPC/Columbia.
Figura 6 - Modelos de previsões do IRI/CPC ENOS. Atualização: Junho de 2022. Fonte: IRI/CPC/Columbia.
Prognóstico
Espera-se que o La Niña fraco continue durante os meses do Inverno e início da Primavera de 2022.
No próximo trimestre (julho, agosto e setembro de 2022) deve apresentar temperatura ligeiramente acima da climatologia em boa parte do Brasil, conforme podemos observa na Figura 7 (a). As chuvas deverão ficar em torno ou abaixo da média em boa parte do Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil, com destaque para anomalia negativa entre 50 mm a 100 mm em áreas do Sul do Brasil e parte de São Paulo. Nas demais Regiões do Brasil, a tendência é de anomalia positiva, ou seja, chuvas acima da média histórica, principalmente na costa do Nordeste e boa parte do Norte do Brasil, exceto no centro-sul dos estados do Pará e Tocantins, além de áreas de Roraima que poderão ter chuva abaixo de média histórica.
Figura 7 - (a) Previsão de Anomalias de temperatura (°C) no Brasil. (b) Previsão de Anomalias de precipitação (mm) no Brasil. Período: Jul-Ago-Set de 2022, atualização em junho de 2022. Fonte: INMET.